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A ideia de transferir o controle das máquinas, os afazeres domésticos, a produção artística para a esfera da inteligência artificial representa a quimera da eficiência nonstop. Robôs, computadores de bordo, edifícios inteligentes são a antecipação do erro demasiado humano. E também a negação de uma existência corpórea, do desperdício de fluidos e reações químicas. Pense na diferença entre camponeses trabalhando a terra e um arado mecânico. A gasolina gasta; o suor, o riso, a lágrima e o canto poupados. Queremos máquinas criadas a nossa imagem e semelhança, ou o contrário? O lixo tecnológico é mais limpo do que o orgânico? Não estamos entrando na dimensão do ideal, que criou o mito, a religião, a ciência? E estas são instâncias conflitantes, ou substitutas complementares? Aquele que ora e pede sua cura é mais passivo do que o cientista que manipula células-tronco? As incertezas afrouxam a capacidade de articularmos respostas satisfatórias. O sim e o não são quase sempre provisórios.  Mas revelam a particularidade tão precária quanto intransferível, mesmo que velada, da autoria.

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