ANDRÉA catrópa

 

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     Filme Olmo e a gaivota - 2015

     

    "OLMO E A GAIVOTA surgiu do desejo de investigar a fronteira entre a ficção e a realidade. Uma narrativa ficcional
    versus uma gravidez real. Um teatro coletivo versus a intimidade de um pequeno apartamento. Uma atriz, um
    ator; após dez anos atuando, agora questionam se poderão"
    (Petra Costa, diretora)
     

    "Ao longo de todo o processo os atores, a equipe de produção e os diretores entraram juntos nesse espaço nebuloso entre

    o real e o imaginado. Como uma colaboração entre gêneros,culturas e personalidades, fazer esse filme se tornou, uma

    intensa interrogação sobre formas narrativas.sobreviver em sua própria pele."

    (Lea Glob)

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    A ficção borrada pela realidade. O teatro engolido pelo cinema. Um feto flutuando no útero. Uma mulher trancada em seu apartamento. O filme dirigido por Petra Costa e Lea Glob estrutura-se de forma vertiginosa, criando no espectador a grata sensação de não estar somente testemunhando o desenrolar de um filme, mas vivendo uma experiência.

    Olívia, a protagonista, é atriz. Interpretada por Olívia Corsini, que assim como a personagem, atua no teatro. Seu companheiro, no filme e na vida, é Serge, colega de profissão. As barreiras entre documentário e narrativa de ficção propositalmente não se esclarecem ao longo da história.

    Vamos à sinopse: o casal Olívia e Serge está ensaiando para uma montagem de A Gaivota, texto dramático essencial de Tchekov. A intensidade do processo de criação das personagens é captada de forma bastante impactante nas primeiras cenas, nas quais a sensação de vertigem já começa a tomar conta tanto de quem está na tela quanto de quem a observa. Em breve, saberemos que Olívia está grávida e quando ela e Serge encontram-se com os outros atores, surge a notícia de que o grupo de teatro foi convidado para uma temporada de apresentações de A Gaivota no exterior.

    Esse é o mote para o que se desenrolem questionamentos profundos sobre vida, arte, amor e, obviamente, a maternidade. Falando sobre isso, aliás, Petra Costa afirma: “É irônico que o filme que, provavelmente, mais lida com o processo da gravidez, levando em consideração as pressões que a sociedade exerce, seja um filme de terror, O Bebê de Rosemary. Eu acho que uma das causas disso é a falta de mulheres por trás das câmeras.”

    Não por acaso a diretora remete ao título de Roman Polanski, pois em comum com o filme de 1968, este Olmo e a Gaivota também apresenta a gravidez como um momento de absoluto estranhamento de si para a gestante. Se a personagem de Mia Farrow era de fato alvo de uma conspiração diabólica, isso não anula a questão do desconforto psicológico que nos acompanha ao assistir O bebê de Rosemary.

     

     

    As cenas em que Rosemary vai observando as modificações no próprio corpo e sentindo as suas transformações não são naturalizadas, antes vistas com estranhamento. Esse mal estar é ressaltado pela figura frágil de Mia Farrow: franzina, hesitante, com olhos sempre assustados. A maternidade parece ser algo radical demais para ser suportado por aquela figura instável e delicada.

    No caso de Olívia, o suspense psicológico e seus artifícios são abandonados em favor de um tom franco e meditativo, mas que ressoa profundamente a concepção de maternidade como construção de duas pessoas (a mãe e o filho) que, de certa forma, precisam destruir partes da mulher que os gera. Mais radical ainda é a vivência desse processo por uma atriz. Acostumada a colocar seu corpo a serviço da ficção – vivendo jovens, velhas, mulheres lindas ou absolutamente comuns – Olívia negava o factual em prol das possibilidades ilimitadas da criação artística. Mas, grávida, o seu corpo é refém da própria história, curvando-se à contagem regressiva que antecede a criação da vida.

     

    A construção da maternidade como destruição de um eu familiar

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